segunda-feira, 26 de abril de 2010

Hélio Pellegrino - 1

Leio hoje, na coluna de Joaquim Ferreira dos Santos ( 2º caderno- O Globo), relato de um "causo", em que ele, numa festa em comemoração aos 60 anos do Hélio Pellegrino, foi tomado pela mão por Fernando Sabino, e levado até Rubem Braga, fazendo a seguinte pergunta: "- Rubem, o que você acha do aniversariante?"  Respondeu ele: " - Acho o Hélio completamente maluco!!!" Falou alto, propositalmente, para que o aniversariante ouvisse. Qual nada, Hélio,  dançava de se acabar o "Balancê" com Dina Sfat, e assim continuou, fingindo nada ter ouvido.
Esse comentário hoje, do adorável Joaquim, me acordou meio ainda dormindo ( pra quem me conhece bem, acordo e ainda na cama, antes do xixi, tomo uma xícara de café, acendo o meu 1º cigarro, e pego o jornal.), para muitas histórias e fatos vividos ao longo de inesquecíveis 11 anos de terapia que fiz com o Hélio.
Tinha 19 anos no início do processo, e até hoje me emociono sobremaneira ao me lembrar... de suas mãos. Com elas, seus gestos, tantas vezes já cultuados, mas por mim vistos, desde sempre, como viris, entusiasmados, se é essa a palavra para se falar de alguem, que ao argumentar, parecia possuído por deus e pelo diabo. Ele se sentava na ponta da cadeira, pendia o tronco pra frente, e num tom de voz crescente, abordava um a um nossos assuntos, como se tivesse definindo e resolvendo o mais urgente problema universal.  A 3ª guerra mundial estava ali, naquela sala em Copacabana.  Raras vezes na minha vida, antes ou depois, tive um interlocutor tão atento e assombrado, com as minhas "loucuras" da época. Assim eu as chamava. Aos 19 anos, eu sofria muito, muitíssimo, e ele sabia e respeitava isso. Era caçulíssima de uma turma com 30 - 40 anos em média, e, me sentava, com todo o direito , ao lado de sua cadeira. E ai de quem se sentasse ali...
Hoje, e sempre, terei muito mais a dizer e a contar desse período, doloroso e salvador, da minha convivência com essa figura iluminada pelo próprio nome, e  que continua me salvando.
Por enquanto quero só dizer que não foi à toa que o encontrei no início desse meu dia.
Acordei tristíssima, infinitamente sozinha, de uma tristeza secular, e profunda, muito profunda.
Só ele, ou a grandiosa lembrança que tenho dele, e de suas mãos, poderiam aplacar um pouco que seja, essa enorme dor.
Obrigada Hélio, por tudo que  nós dois sabemos, e desculpe-me o fato de não ter tido a quem pagar o último mês do nosso tratamento. Essa talvez seja a menor dívida que tenho com você.
Quero te imaginar, preciso te imaginar, dançando, ainda...

4 comentários:

  1. "figura iluminada pelo próprio nome"
    acho que esse texto te deu direito pelo menos a mais 11 anos desse "interlocutor tão atento e assombrado". Senão aqui, em algum outro lugar. E quem sabe até a uma dança ao som do Balancê. Adorei!

    ResponderExcluir
  2. Querida, faço minhas as palavras da Muriel e do Caio. Mas, como poucos, talvez, acompanhei muito de perto, por algum tempo, esse teu (nosso?) movimento fundamental junto ao Helio.

    ResponderExcluir
  3. Tô precisando de um Helio Pelegrino!!!

    Mãe, talvez seja essa pessoa que te ensinou o que é ser habitada. Marthinha, até te ajudou...

    ResponderExcluir