quinta-feira, 13 de maio de 2010

PARA LENI


Há muito tempo atrás, lá na infância

conheci uma mulher, a primeira.

Leni era seu nome.

Em meio a mães, primas e irmãs,

ela era pra mim, quase uma aberração.

No seu olhar brilhava uma vida

desconhecida pra mim:

Fêmea de carne e osso, no cio.

Habitava, criança e prostituta,

um mundo de fadas, brinquedos e

meninos adolescendo, insaciáveis.

“Ser mulher deve ser bom”, eu pensava,

quando a olhava, de longe,

desavergonhada em sua alegria desbocada,

feliz dentro de sua gargalhada sem dentes.

Poderosa.

Todos a possuíam.

Ela, pertencia ao mundo.

Galhofavam dela, irritavam-na, imantados,

sem conseguir se afastar, dominados.

Debochavam de seu cabelo pixaim,

provocavam e gritavam:

— LENI BOMBRIL!!!

Uma bomba detonava, então:

Como um animal feroz

ela rolava no chão com eles

e se sujava sem pudor:

ontem no prazer

hoje na luta, na guerra.

E, com a mesma garra,

num terreno e noutro,

marcava o seu território.

Aos meus olhos de menina

tudo isso era puro fascínio.

E lá no fundo de mim,

como semente de mulher que aguarda,

crescia uma admiração, um respeito.

Desde então,

e lá se vão 30 (35?) anos!

Sempre que a vejo, sempre de longe,

sempre suja e pobre,

sempre aceno, sempre sorrio,

com uma mistura de gratidão e carinho.

E ela sempre responde,

usando sempre o mesmo gesto,

levantando o braço bem alto,

segura de si,

altiva,

guerreira,

forte e feliz,

ainda.

2 comentários:

  1. Querida, admirável estar Leni ainda forte e feliz. É um exemplo a ser seguido, já que deve contar com cerca de 85 anos, passados que são 35 ...

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  2. Amo a poesia natural que tem dentro das crianças...

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