PARA LENI
Há muito tempo atrás, lá na infância
conheci uma mulher, a primeira.
Leni era seu nome.
Em meio a mães, primas e irmãs,
ela era pra mim, quase uma aberração.
No seu olhar brilhava uma vida
desconhecida pra mim:
Fêmea de carne e osso, no cio.
Habitava, criança e prostituta,
um mundo de fadas, brinquedos e
meninos adolescendo, insaciáveis.
“Ser mulher deve ser bom”, eu pensava,
quando a olhava, de longe,
desavergonhada em sua alegria desbocada,
feliz dentro de sua gargalhada sem dentes.
Poderosa.
Todos a possuíam.
Ela, pertencia ao mundo.
Galhofavam dela, irritavam-na, imantados,
sem conseguir se afastar, dominados.
Debochavam de seu cabelo pixaim,
provocavam e gritavam:
— LENI BOMBRIL!!!
Uma bomba detonava, então:
Como um animal feroz
ela rolava no chão com eles
e se sujava sem pudor:
ontem no prazer
hoje na luta, na guerra.
E, com a mesma garra,
num terreno e noutro,
marcava o seu território.
Aos meus olhos de menina
tudo isso era puro fascínio.
E lá no fundo de mim,
como semente de mulher que aguarda,
crescia uma admiração, um respeito.
Desde então,
e lá se vão 30 (35?) anos!
Sempre que a vejo, sempre de longe,
sempre suja e pobre,
sempre aceno, sempre sorrio,
com uma mistura de gratidão e carinho.
E ela sempre responde,
usando sempre o mesmo gesto,
levantando o braço bem alto,
segura de si,
altiva,
guerreira,
forte e feliz,
ainda.
quinta-feira, 13 de maio de 2010
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Querida, admirável estar Leni ainda forte e feliz. É um exemplo a ser seguido, já que deve contar com cerca de 85 anos, passados que são 35 ...
ResponderExcluirAmo a poesia natural que tem dentro das crianças...
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